segunda-feira, 11 de abril de 2011

Deixar Deus trabalhar em nós

Dia 6 de abril, no Progarma Direção Espíritual, com Pe Fábio de Melo na Canção Nova,  houve uma pergunta de um telespectador  que foi respondida com maestria pelo padre. Fala de uma situação que acontece com frequência na nossa vida espiritual e é muito importante que a gente faça um balanço em cima de tudo que foi falado.
Fui atrás do vídeo e trascreví tim tim por tim, porque nenhuma palavra pode ser desperdiçada.
Reflitam e vejam a verdade deste texto.
Beijos
Grácia
"....participo do grupo emaús de minha comunidade, toco violão nas missas, mas de uns tempos para cá tenho estado desanimado, tenho perdido a vontade de ir na igreja, de tocar violão, pra mim tudo parece ser forçado. Tenho tentado rezar mas está sendo muito dificil. Como resolver isto?"
 
"A nossa adesão a Cristo precisa ser renovada todos os dias. Muitas vezes, o nosso desânimo espiritual acontece, quando nós nos esquecemos que trabalhar para o Reino não é o mesmo que viver o Reino.
Trabalhar para o Reino faz parte, mas antes de trabalhar é preciso esta experiência de querer esta pertença.

Deus não pode fazer absolutamente nada com as nossas obras se antes ele não possuir o nosso coração”. Pe Deon.

Muitas vezes o nosso esmorecimento espiritual se dá pelo excesso de trabalho, porque quando eu toco na missa, prego, canto etc, eu corro risco de achar que este ativismo já é a minha participação. Eu corro risco de achar que toda a minha experiência de fé se reduz a estas atividades, mas não, a experiência passa antes de qualquer coisa, pela minha oração pessoal, pela minha vivência da Palavra, pelo meu cultivo particular deste Deus que habita em mim, da minha experiência em conhecê-Lo, em mergulhar cada vez mais no seu mistério. Agora, quando eu não tenho esta vida íntima com Deus e eu me limito a trabalhar para Ele, em pouco tempo o sentido vai embora. A gente se cansa, a gente se decepciona, a gente começa a achar que os defeitos das pessoas já são motivos suficientes para fazer a gente desistir.

O trabalho que a gente refaz dentro da nossa Igreja, não é nada mais nada menos do que uma mera desculpa que Deus tem para mexer na nossa história, porque quando eu estou trabalhando para ele eu tenho que me expor, eu tenho que lidar com os outros, e automaticamente, ao me expor e ter que lidar com os outros, os meus defeitos e qualidades vem a tona, e é a oportunidade que eu vou ter de melhorar quem eu sou.

Não posso esgotar a experiência que eu faço de Deus com o trabalho que eu realizo, senão vamos acreditar que estar dentro da igreja ou fazer isto ou aquilo possa ser já motivo de Salvação para nós. Não, o meu trabalho dentro da igreja, dentro da minha pastoral ,pode ser um instrumento para a minha salvação ou não. Dependendo da maneira como nós trabalhamos, dependendo da maneira como nós lidamos com a missão que Deus nos dá, ela pode ser causa de condenação, é um perigo.

TESTEMUNHO. A alguns anos acompanhei um caso de um senhor que teve uma conversão, se entusiasmou e com pouco tempo foi trabalhar na igreja já como coordenador de uma comunidade, mas percebi que com pouco tempo certas atitudes dele pertenciam ao contexto do homem velho, antes da conversão: o orgulho, a arrogância, começou a tratar mal as pessoas que estavam ao redor dele, começou a pensar que aquela autoridade lhe dava direitos. Aquilo se tornou tão destruidor para ele que um dia ele chegou quase a agredir um companheiro numa discussão mais acalorada dentro da sacristia, e eu presenciei isto. Depois com toda a liberdade que eu tinha com ele eu disse: posso te dar um conselho, Deixe todo trabalho que você faz dentro da igreja, você ainda não estava preparado para ter autoridade nem tampouco para trabalhar para o Reino de Deus. Você ainda estava vivendo o seu processo de namoro com o Senhor.

Porque se você não estiver verdadeiramente apaixonado por Jesus nenhum trabalho seu poderá lhe fazer bem, porque a ação humana pode machucar, se ela não estiver revestida de Deus ela machuca, ela magoa, ela estraga.
Pode parecer estranho um padre dizendo a um fiel, que ele deveria, pelo bem da sua alma, deixar de participar do trabalho da igreja.
Volte às celebrações, volte a ter o prazer de entrar na igreja só para rezar, para comungar e celebrar com a comunidade, porque você ainda não está preparado para o trabalho.

Prá gente trabalhar para Deus a nossa conversão tem que estar em dia, porque se não o nosso trabalho se transforma na nossa condenação.

Quantas pessoas que você conhece, que estão 20, 30 anos em frente a uma pastoral que estão totalmente esvaziadas de mística, porque só trabalham, deixaram de ter amor por aquilo que fazem.

Você que é padre, se você não cuida o seu ministério sacerdotal se transforma num trabalho, só, se corre o risco de virar operários do Reino, celebro uma missa, atendo uma confissão atendo um doente..... Se a gente não cuida, o nosso ativismo mata a nossa experiência mística.

Às vezes é muito melhor, na igreja, a gente trabalhar um pouquinho menos e balancear o trabalho com a nossa vida espiritual, com a vida de oração do que assassinar o seu processo místico, pelo tanto que você se apegou ao trabalho. E aí agente deixa de dar testemunho, a gente deixa de fazer o bem, e vamos pesando o nosso coração. É este o problema das nossas pastorais. Todas as nossas comunidades estão sofrendo com o ativismo: o padre, as freiras, os leigos, porque a gente está dando a Deus o nosso trabalho, mas muitas vezes não estamos dando a Deus o nosso coração.

Se eu não permito que Deus more em mim como é que eu vou querer fazer alguma coisa por ele.
Em outros tempos, eu já vi dentro da Renovação Carismática, os servos que usam coletes para se diferenciar, porque estão a serviço, arrogantes, com grosserias, porque achavam que aquele colete, ao diferenciá-lo, lhe colocava em uma posição favorável. Não. A Escritura diz que a verdadeira autoridade está no serviço.

A vida perde sentido se nos afastamos da mística. Eu quero trabalhar para Deus, mas é preciso que antes Deus trabalhe em mim. Ao trabalhar para Deus eu estou dando a oportunidade para que Deus trabalhe em mim, só assim este trabalho tem sentido.

Se somos cristãos, se já estamos evoluídos nesta vida em Deus, nós saberemos identificar os nossos limites, cortá-los e recomeçar. Se não, nós vamos morrer com todos os nossos defeitos, nos agoniando, nos machucando, e o pior, dando um testemunho terrível para aqueles que não acreditam.

Saibam que o ateísmo no mundo é gerado por nós que cremos. Eu digo que creio e outro me vê tendo uma atitude de desumanidade, de injustiça, de arrogância, ele não vai acreditar em Deus, justamente pelas nossas atitudes. Que Deus é este que não colocou coisas boas na vida deste que crer?

Agora, quando estamos vivendo a dinâmica de Deus na nossa história, aí sim, nós seremos um instrumento de transformação aonde a gente for. Sem arrogância, sem prepotência mas com a vida.

Portanto cuidado, você que está à muito tempo trabalhando para Deus tente fazer este balanço: se o tanto que você trabalhou para Ele, Ele também trabalhou em você. Se você trabalhou mais do que Ele trabalhou em você, cuidado, pode ser que o seu trabalho esteja sendo para você um instrumento de condenação e não de salvação.

Coordenador disto, coordenador daquilo, cuidado, o que vai contar no fundo, no fundo, no último momento é o quanto Deus coordenou você, isto é que vai fazer a diferença.

O que vai nos salvar no fim de tudo é o tanto que a gente amou, o tanto que a gente foi solidário, o tanto que a gente foi verdadeiro, fiel, bondoso, harmonioso, gerador de harmonia. É isto que vai valer no final de tudo.

Então minha gente, muitas vezes o desânimo do trabalho nasce, porque não estamos vendo mais os frutos de Deus na nossa vida, e não adianta nada eu querer que os frutos estejam no quintal do outro se eu não promovo o crescimento deste mesmo fruto no quintal da minha casa, da minha vida.

Mas é uma luta, eu preciso viver esta dinâmica o tempo todo, eu preciso estar em alerta, eu não posso brincar porque senão eu também corro risco de me esquecer de tudo isto, cair no ativismo e me afastar do essencial. "

Um comentário:

Fabíola disse...

Marta ,este foi sem dúvida um luz de Deus para todos nós que servimos ou que queremos servir a Deus . Guardarei como um conselho vindo direto de Deus , e espero ter força e sabedoria para saber ver em minha vida este momento . Para que meu tempo para Deus seja mais para me torna o que ele deseja , do que um simples trabalho . Obrigada por torna este espaço um momento de ensino para todos que participamos dele.

Fabíola